segunda-feira, novembro 15, 2010

Tropa de Elite 2

O segundo filme da série Tropa de Elite está chegando perto de se igualar ao primeiro tanto no sucesso de público quanto em polêmicas. O filme, como é de costume nos filmes tanto do Padilha (diretor) quanto do Bráulio (roteirista), tem a inegável característica de provocar reflexão. Muitos levam suas reflexões para seus travesseiros, alguns soltam comentários em encontros com os amigos e outros tantos se expressam na rede. Há tempos este blog estava aposentado, mas achei que essa era uma oportunidade boa para ressucitá-lo (tbm pq meus amigos, principalmente meu irmão, já cansaram de meus comentários).

O primeiro filme foi fortemente marcado pela polêmica: é ou não um filme facista? Não gosto muito de usar termos muito gastos. Acho que nossa sociedade é fragmentada demais para termos uma compreensão compartilhada de termos como "facismo", mas acho que isso não é motivo para descartar completamente a pergunta. Vamos ao invés disso refrazeá-la de forma simplista. Será que o primeiro filme defende a seguinte tese: Nossa sociedade é dividida em homens de bem e bandidagem que deve ser eliminada dela de alguma forma.

Parafraseando a Veja.

Veja:"A aclamação a Nascimento vem, em grande parte, de um legítimo anseio comum aos brasileiros de bem: todos querem circular pelas ruas de suas cidades sem medo do assedio da bandidagem".

Seria no mínimo estranho imaginar que o autor de Ônibus 174 fizesse um filme que defendesse tal tese. Por outro lado, essa parecia ser a mensagem. O herói do filme, como bem apontou a Veja, claramente defende isso. O que o Padilha estaria planejando? Será que ele simplesmente gosta de mostrar diferentes versões e não tem tese alguma? Ou será que ele tinha uma carta na manga?

Quando soube que estavam gravando o segundo filme minha alma se encheu de esperança: "Que idéia genial! Primeiro atraímos aqueles que acreditam que para resolver o problema da violência eliminar os violentos. Em seguida bolamos uma seqüência do filme que desmente isso e ensinamos a todos eles. Genial! Não me lembro de ter visto uma sequência de filmes com argumentação e contra-argumentação. Esses caras são gênios."

Minha esperança foi alimentada quando soube da preocupação em não deixar vazar uma cópia pirata sequer: "Eles estão preparando a surpresa".

Engraçado que como o otimismo ou o pessimismo alteram a percepção da realidade. Ao assistir o filme saí da sala convencido de que eu tinha razão. O filme dava várias pistas que corroborava minha tese. A cena que mais me chamou a atenção foi uma em que o Deputado/Apresentador de TV chama o Fraga de moleque e o Fraga responde que vai mostrar quem é moleque na CPI. Que extase! Depois de meses ouvindo dezenas de pessoas rindo alto chamando todo mundo de moleque e aplaudindo as torturas do Capitão Nascimento vem o Fraga lavar minha alma: "vamos ver quem é moleque na CPI".

Cheguei em casa com vontade de postar tudo isso, mas antes resolvi checar minhas idéias. Resolvi ver se as entrevistas com os fazedores do filme corroboravam minha hipótese. Procurei entrevistas com Padilha, Bráulio, Wagner Moura e Luiz Eduardo Soarez (escritor dos livros). Descobri que estava enganado, mas nem o por isso o filme perdeu seu brilho.

Primeiro, eles não tinham idéia de que o filme teria continuação quando fizeram o primeiro filme. Na verdade o filme quase virou série de tv

JP: "Várias emissoras de televisão ligaram pra gente na época do primeiro filme - duas aqui do Brasil mais seriamente e duas de fora - e perguntaram se queríamos fazer uma série para a TV. Conversamos com eles, com o Fernando Meirelles, que é amigo do filme e ajudou também e falou que era para fazer, que era legal. Mas sempre essas conversas esbarravam em uma coisa: eu ia ter que assinar um contrato dizendo que o conteúdo final não era meu. A decisão final não ia ser minha porque nenhuma televisão, com toda a razão, faz uma série que ela não controla. Porque vai que o diretor é maluco... vai que é o Zé Padilha! Então chegava na hora e eu não conseguia assinar. Então, não fiz. Mas nesse processo fiquei pensando em que filme eu podia fazer." (link).

Segundo e mais importante, em nenhum momento eles consideram o Capitão Nascimento como um herói

WM: "Para nós, nunca um cara que tortura pessoas e coloca gente no saco pode ser visto como um herói. Neste filme, agora, eu diria que esse personagem é mais digno de alguma admiração do que no primeiro." (link)

Roda Viva: "Se você for convocado para um júri popular e aparecer na sua frente o capitão Nascimento e contar aquilo que ele contou no filme, você daria a pena máxima para ele? Uns trinta anos de cana?"
José Padilha: "Com certeza. Não tem a menor... eu não titubearia nisso. O capitão Nascimento não tortura em segundo plano, no cantinho da tela, ele tortura em close, na frente da tela. Ele executa uma pessoa, bota na conta do Papa e manda executar. O capitão Nascimento pega um cabo de vassoura e ameaça empalar um jovem. O capitão Nascimento é explicitamente mau." (link)

As entrevistas acima me convenceram de que a tese do primeiro filme estava longe de ser a tese ingênua que eu (e a Veja) enunciei no começo, mas surge então uma segunda pergunta: Será que o público conseguiu capturar isso? ou será que o sucesso do filme foi exatamente causado por um mal entendimento de um público que acredita na eliminação da bandidagem?

Bráulio: "Pelo que me contaram, alguns espectadores aplaudiram a execução do personagem do traficante Baiano no fim da história. Talvez, outros tenham sentido vontade de aplaudir as execuções da estudante e do diretor da ONG levadas a cabo pelo próprio Baiano na favela, algumas cenas antes. Quem sabe, parte da platéia tenha comparado as duas execuções e pensado: “caramba, os traficantes e o Bope agem segundo uma mesma lógica perversa: quem quebra a lei (seja a lei do tráfico ou do estado) tem que ser torturado e executado”. Outras pessoas podem ter pensado muitas outras coisas. O público não é uma massa indistinta que atua em coro. Cada espectador reage ao que vê de acordo com o seu próprio sistema de valores. Há espectadores cuja reação diante de um filme é a de questionar suas opiniões e crenças. Outros buscam apenas encontrar elementos que sirvam para reafirmar o que já pensam. As reações do tal público não são unívocas. E os autores de qualquer obra não têm controle sobre elas." (link)

Muitas outras coisas interessantes que omiti aqui por falta de espaço podem ser encontradas nos links presentes neste post: pirataria, jovens usuários de drogas financiando o tráfico, liberação das drogas, "patrulha ideológica", histórias que mexeram o capitão Rodrigo Pimentel etc. Boas leituras:

4 Comments:

Blogger Danilo J. Santos said...

Fala márcio!

Gostei do seu post cara.
Mas além do conteúdo, gostei muito do seu "eu-narrador" hehe. Gostei do como você conta trajetória pré e pós obra, e o que da vivência que teve, você expôs aqui como experiência - aqui inclusive me baseio no próprio W. Benjamin sobre o conceito de "experiência".
Acho que, apesar de textos bastantes diferentes, nossas ideias quanto ao filme parecem confluir.
E sobre as entrevistas dos fazedores do filme, em alguns momentos a neutralidade deles me irrita um pouco. É que mesmo que queiram não ser ditadores de suas próprias obras para/com o público, me parece algumas vezes que essa tentativa os transforma - indireta e negativamente - em "seres que pairam sobre a terra".
Enfim, falei demais, vamos discutindo...
Abs

12:33 AM  
Blogger oakleyses said...

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